O curso de medicina dura pelo menos 6 anos, com teoria, prática e muitas noites sem dormir. O curso oficial de primeiros socorros da Cruz Vermelha é de 40 horas, onde o que se faz, de forma geral, é dar uma massagem cardíaca a uma boneca de borracha e obtemos o certificado fazendo um teste de escolha múltipla. Cada curso é o que é e serve para o que serve. O que não pode ser confundido são as capacidades de um com o conhecimento e a experiência do outro. Num acidente de trânsito, e se não houver mais ninguém, esse socorrista será uma grande ajuda, mas ninguém o deixaria pegar num bisturi e operar uma apendicite havendo um médico para o fazer.
Situação em Facility Management
No nosso setor existem estudantes que se têm preparado durante anos, tirando um curso universitário de Facility Management. São 4 ou 5 anos de trabalho duro, com componente prática em empresas e exames difíceis. Também há profissionais, com mais ou menos experiência, que decidem fazer um curso de 30 ou 40 horas, pelo qual recebem um certificado de presença. O curioso é que “competem” no mercado de trabalho, como se tivessem as mesmas capacidades. É como se alguém com um curso de primeiros socorros fosse aceite como o cirurgião-chefe de um hospital. Isto não é benéfico em aspeto nenhum.
Jamais conseguiremos que a nossa profissão tenha um peso específico maior dentro das empresas se aceitarmos que, em poucas horas ou apenas lendo alguns documentos simples, alguém se torne num pseudo-graduado em Facility Management. Por isso, quando determinados diretores de outros departamentos vêem isto, afirmam “o que o pessoal do FM faz, qualquer um pode fazer”. Não é surpreendente que as universidades que oferecem cursos de graduação em FM estejam a considerar mudar os cursos para outros mais atraentes.
Adaptação sem adulteração
A pergunta óbvia é: “O que acontece se não houver uma carreira em FM?” – É algo que acontece em muitos países. Bem, conseguimos encontrar uma alternativa e aproveitar ao máximo o que existe, mas nunca poderá chamar o socorrista de “Senhor Doutor”. Não pode, porque quando algo dói e lhe perguntarmos, iremos constatar que ele não sabe responder e perderá toda a credibilidade. Do mesmo modo que no hospital há médicos, também são necessários os anestesistas, enfermeiros, auxiliares e uma longa lista de profissionais que não precisam de ter esta carreira, mas possuem conhecimentos específicos. Muitos tipos de perfis com diferentes conhecimentos e habilitações são necessários nos departamentos de suporte. Saber que tipo de formação é necessária é fundamental para se poder colmatar as expectativas da empresa-cliente.
Existem diferentes tipos de carreiras na FM: a mais antiga, na Holanda, é voltada para a componente da hospitalidade, na Alemanha o foco é a o Corporate Real Estate e, recentemente, nos países nórdicos europeus, o foco é mais voltado para o design de serviços. Na FMHOUSE temos quase 3.000 horas de formação e não cobrimos tudo. Concentramo-nos nas camadas de gestão e metodologia com base na nossa experiência como consultores. É normal reconhecer que existe muito mais e que não o incluímos. O que deve ser tido em consideração é que se o que nós precisamos não está disponível, não devemos inventar, camuflando as necessidades com qualquer curso de fim de semana.
Os cursos de “socorrista” de Facility Management devem ser realizados por todos os gestores de empresas para que entendam o que é feito. É surpreendente ver que nas escolas de gestão falam de marketing, finanças, recursos humanos, tecnologia, mas não falam de FM. Talvez um dia possamos dedicar algum tempo a divulgar o que fazemos fora do nosso meio e dentro do meio académico, porque, valorizar a boa formação que fazemos dar-nos-á reconhecimento e posicionamento.